Rua inactiva esquecida
Do vai vem da população
Antigamente cheia de vida
Dia e noite de animação
Das rodas, das bailaradas
Dos jogos da rapaziada
No meio de tanta algazarra
Dos risos e das fisgadas
Dos chorincos entre topadas
Dos belos contos de fadas
Eram muito… pequenos nadas
Subiam às árvores a brincar
Caiam de lá e voltavam
O chorar era a chorincar
E quando se cortavam
A agulha e a linha serviam
Em casa que os golpes se cosiam
E era ao ar que eles saravam
Sentados no portado ao serão
Vozes altas soavam no negro
Entoava um pregão
No escuro que arrepiava de medo
Levantavam-se sempre cedo
Musicando as cardas no chão
Chaminés sempre a fumar
Com a panela de barro ou ferro
A comida a perfumar
A curiosidade de quem passa
Apetite não faltava
Porque de tudo se gostava
O colchão mexido e remexido
Para um bom acordar
Sempre branco era o tecido
Do lençol de renda e bordado
Com a colcha de cadilhos
Esticada... tudo muito bem arranjado
Nas ribeiras sempre a cantar
Ao som da água a correr
Lavavam a roupa, punham a corar
E nos arbustos iam estender
À cabeça o alguidar
Num troço que o equilibrava
Caminhavam a conversar
E a dor se suportava
Eram as cruzes assim diziam
Dor pela posição curvada
Se estendiam e se torciam
No meio de muita rizada
Iam à fonte carregando cântaros
À cabeça e ao quadril
Em qualquer dia do ano
Bebiam por um cocho ou barril
Num copeiro, havia um copo
Com um napperon bem tapado
Ao lado do poial dos cântaros
Cada um bebia e era lavado
O aguadeiro corria as ruas
Quem quer água fresquinha?
Trazia o copo numa mão
E na outra a cantarinha
Em casa se alumiavam
Com candeeiros a petróleo
Ao lusco-fusco as mulheres bordavam
Faziam o enxoval de renda
Vestidos cheios de folhos
E as meias que calçavam
Maria Antonieta Matos 24-08-2013
- Arlete Anjos, Domingos Fernandes, Manuel Manços Assunção Pedro e 54 outras pessoas gostam disto.
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