29 junho 2022

Oh! Cruel guerra…!

Oh! Cruel guerra que não tem limites
Que espuma a cólera na ferida profunda 
Que se esconde em disfarces e palpites
Que devora tudo que na terra abunda 

Num muro de dor como lobos encurralados
Sem dó nem consciência num plano hostil 
Circunda o louco no seu trono confortado 
Furioso, mascarado no maneio subtil

Vai explodindo rancor por tanta ambição
Agiganta o vexame e o golpe transmite
Que frieza humana que não bate coração
Que as veias são negras de tanto apetite

Vagueia nas tréguas o espírito a chorar
O olhar desconstrói o atroz inimigo
Mergulha a esperança da gente a amar
Enquanto a alma grita: - vá lá, eu consigo! 

E o mundo livre não para de gritar:
- Queremos a paz, esse horror exterminar
- Queremos o louco no hospício para mudar
- Queremos liberdade e todos amar

17-03-2022 Maria Antonieta Matos
Pintura: Costa Araújo





A SAUDADE 1

A saudade faz viajar 
A mente que nos eleva
Não importa o quê lembrar
Mas a vida tudo há-de achar
Que ao coração nos afeta

A saudade rege o olhar
Que um momento nos retrata
Seguindo o dom de criar 
Nesse foco a delirar 
Na mente que se desata 

A saudade abre um sorriso
Daquele instante passado 
Vagueando de improviso
Nas asas do paraíso
Soltando o choro salgado

A saudade abre os braços
Ao amor que nunca esquece
E deixa marca, deixa laços
Em cada ano por onde passo
Que essa loucura acontece

A saudade tem harmonia
No tom da pele a roçar
Das cores que o tempo fazia
Da chuva, do rio que corria
Das flores no campo a teclar

A saudade tem perfume 
Que se entranha no sentido
Tem fogo, tem azedume
Uma paixão um ciúme
Desse sopro tão atrevido 

A saudade tem sabor
Do manjar da nossa avó
Tem um quadro, uma estima
Uma canção, uma rima
Um desejo de estar só

Évora, 20-02-2022, Maria Antonieta Matos
Pintura:Costa Araújo




ACORDEI COM TEU BEIJO ABENÇOADO

Acordei com teu beijo abençoado
Abracei-te carinhosamente nos meus braços
Senti teu alento no meu colo idolatrado 
Que gemia de emoção no nosso laço 
    
A luz do sol resplandecia na janela
Oferecia maior esperança o novo dia
O amor fazia parte da nossa cela
Como um palácio luxuoso cheio magia  

Um passarinho a cogitar no parapeito 
Entre a vidraça transparente, tão altivo
Espreitava enternecido o nosso leito
Refletindo o seu olhar surpreso e cativo

Évora, 28-01-2022 - Maria Antonieta Matos

Pintura: Costa Araújo






Eu e tu

 Talvez no correr dos anos vás esquecer 

Os momentos felizes no verde campo, contigo 
Á sombra da oliveira, com o sol a derreter
Entre olhares comungava meus ensejos contigo 

Talvez os anos sejam o foco da lembrança
Que nós os dois temos sempre em mente
Por serem sorridentes num mar da esperança
Eternizamos nossos instantes para sempre

Talvez ainda velhinhos de mãos dadas
Com olhar provocador e matreiro, aconchegados
No nosso manto em fogo, até à alvorada 

Talvez a vida não se esqueça de nós dois
E os anos passem eternamente apaixonados
Sempre ardentes como amantes, mesmo depois

Talvez emaranhados como livros velhos
Abraçados em estantes cobiçadas
Escorregando nas casas como novelos 
Em castiçais sem luz, as suas laudas

Talvez o fogo que ateia de boca-em-boca 
No ermo verde, apinhado de flores enraizadas
Sopre aos berros como uma cabra louca
A fantasia, a explosão das cinzas, e já não resta nada!

Évora, 14-01-2022 - Maria Antonieta Matos
Pintura: Costa Araújo



TÃO LUXUOSA E ATRAENTE

Tão luxuosa e atraente vai certa dama
Na passarela perfumada de vermelho
Sisuda e emproada no olhar da fama
Imaginando-se a bailar refletida ao espelho

No seu íntimo carrega uma patranha  
Que a leva enigmática na jogada musical
Solitária parece que um anjo a acompanha
Na pegada assombrada e infernal

Ao vê-la, enche a sala de cobiça e sorrisos 
Num murmúrio entranhado e caloroso
Andante silhueta com toques tão precisos
Desliza seu corpo nu, alongado e decoroso

Enquanto dura luminosa aquela chama
Tudo são brocados, diamantes e ilusão
Mas a caixa de pandora abre-se e reclama
E todas as dores e desgraças ali estão

Évora, 15/ 01/2022 Maria Antonieta Matos

Pintura: Costa Araújo



VIVO CATIVA EM TEU CORPO

Vivo cativa em teu corpo 
Meu peito bate incessante 
Ansiosa dos teus beijos
Ancorada em desejos
Revoltos d´ abraços ardentes
Vivo a caminhar nos teus passos
Como uma sombra bailando
Esvoaçando nos teus laços
Entre toques meigos que de faço 
No teu corpo baloiçando 
Vivo… tua companheira eterna
Como o orvalho na flor ao amanhecer 
E à noite sempre a luz duma lanterna
No horizonte o perfume numa caverna
Ouvir nossa canção na nudez acontecer
Vivo na dor, no prazer, na tristeza n´alegria 
Sempre a considerar a mudança 
Uma cura inquieta porém oso sabedoria
No amor… condimentos, euforia
A cada ano, a cada dia, inundada d’ esperança

14-10-2021 Maria Antonieta Matos
Pintura: Costa Araújo





JÁ TANTO OS MEUS OLHOS VIRAM…

Já tanto os meus olhos viram…
Contentes a encher a alma
Sorrindo imponentes a doce calma
Da merecida paisagem… a cintilar riram

Já tanto os meus olhos viram…
Entusiasmados, penetrantes
Desejosos que não passem
Esses instantes deslumbrantes 

Já tanto os meus olhos viram…
Amargos, chorosos a reclamar 
Do mundo aflito que desaba 
Num vulcão a mergulhar

Já tanto os meus olhos viram…
Despedaçados sem luz 
Ao ver incandescente rio 
Descer o monte bravio
Carregar o medo e a cruz 

Já tanto os meus olhos viram…
Já tanto os meus olhos viram…

Vi dentar o cume das árvores
Pelas águas revoltas da tormenta 
Arrancarem por onde passam
As casas e a terra sangrenta

Vi veículos desorientados 
Em correria sem tréguas
Galgarem barreiras como fardos 
Tombarem em algares a léguas

Vi muita ansiedade e dor 
Calamidades, suplício 
Um sufoco emaranhado 
Uma vida de sacrifício
Vi mulheres maltratadas 
Como se fosse uma coisa 
Sem direitos… Humilhadas
A um pequeno espaço, confinadas

Vi muita desumanidade 
Sem vergonha… nem compaixão
Matar sem escrúpulos ou piedade
Por mitos de religião 

Vi a natureza revoltosa
Por defesa de extinção
Zangar-se com a humanidade
Vestida de furacão

Vi a terra a estremecer
Cadáveres por toda a parte
Dos escombros, muito sofrer 
Agonia, desespero, desastre 

Vi a terra comer o mar 
Um braseiro imparável
Uma cratera a fulminar
Na vastidão vulnerável

02-10-2021 Maria Antonieta Matos
Pintura: Costa Araújo

























O QUE SOU HOJE

 O que sou hoje, 

nunca saberei amanhã
Quando se apagarem as luzes

Na alvorada da nova manhã
Em que o pensar em todos urge 

Entrarei no esquecimento 
Ou no juízo de cada um
Em momentos de lamento
Ou no alívio de alguns

O que sou hoje
Nada tenho para lembrar
Uma obra, uma herança para deixar…
Que solte o prazer do povo
para com júbilo celebrar

Resta-me viver na esperança 
Pedir à lua bonança
Ao sol iluminação
Às nuvens sua emoção
À chuva esse alimento
Que agite os ramos e a direção 

O que sou hoje, ninguém sabe 
Mas deixa-me pensar que há-de,
Chegar o sonho, parecer real
Nascer a obra mesmo já tarde
           
Maria Antonieta Matos 07-09-2021
Pintura: Costa Araújo





PAIRA A RESMUNGAR A CEGARREGA

Paira a resmungar a cegarrega
No meu ouvido… que ensurdece, saturado!
Até me ausento do mundo, por que me cega
O remoinho nos sentidos, penetrado

Preenches o pensamento que me nega
Qualquer ideia que tenha planeado
Sempre o ruído uma peta me prega
Distraindo o plano no tempo adiado

Quando me deito e o espirito sossega
Lá te oiço mais intensa e perversa
E faço um apelo… e por mais que te peça
Surge teu sinal em mim sempre alerta.

Maria Antonieta Matos

Pintura: Costa Araújo



OS MEUS DIAS VÃO MORRENDO

Os meus dias vão morrendo

Na soidade das palavras

Que me faltam… remexendo

Há que tempo confinadas

Onde estão as palavras de ternura?

Que os meus amores me diziam

Às vezes, não com tanta frescura

E que agora me apeteciam

Preciso do toque delas

Revestidas de emoção

Dessa sensação que só elas,

Perto aquecem… meu coração

Estou receosa que se percam

Não tenham o mesmo sabor

Que vão continuar distantes

E aos meus olhos percam a cor

Até quando este vazio

Das palavras sempre em festa

Que acalentavam o frio

Até na casa cheia de frestas

05-03-2021 Maria Antonieta Matos

Pintura : Costa Araújo



MINHAS MÃOS

Minhas mãos dormentes, encarquilhadas
Mostram-me o caminho da idade
A murmurar ressaltam pintas desajeitadas
Num jardim em festa ao fim da tarde

Minhas mãos meigas a pintar teu corpo
E a enternecer teu coração
Vão perpetuando esse doce mosto
Como o dedilhar do terço na oração

Minhas mãos falam-te delicadas
Tateando entrelaçadas no amor
Tocando sentimentos à pele arrepiada

Não há idade que impeça o sonho
As minhas mãos têm a cura para dor
Nos afagos que disponho

25-02-2021 Maria Antonieta Matos

Pintura: Costa Araújo



FICA EM CASA

O que fazer neste tempo,
Para contentar este povo?
O que um quer, outro não quer,
Sempre contra ao que há de novo.

Muito lento a perceber,
A cada medida implantada,
Faz ouvidos de mercador,
Sem responsabilidade de nada.

E o vírus vai inflamando,
O corpo de cada um,
Replicando acomodado,
À espreita dos descuidados,
Sem distanciamento nenhum.

Sem máscara descontraídos,
Perfilados na loucura,
Contrariando a evidência,
Que o vírus ateia a fervura,
Que a festa e a negligência,
É bom…! Mas pouco dura.

Fica em casa, resguardado,
Lava as mãos repetidas vezes,
Não ponhas as regras de lado,
Olha a vida o teu passado,
Não percas os dias e meses.

Maria Antonieta Matos 11-02-2021

Pintura:Costa Araújo





OBSERVO INQUIETUDE DESMEDIDA

Observo inquietude desmedida, no meu olhar
Um mundo em euforia, que desconheço
Retórica sombria, revoltas a aclamar
Abrindo espaço a um despertar avesso

Guerra súbita, que aos excessos dá valor
Que veda os olhos ao humanismo e à paz
Que engana sem respeito nem amor
Que cinzenta a verdade no engodo assaz

Vejo a lucidez transviada numa agonia
A pobreza que há muito tempo não via
Uma doença que nos consome

Vamos deixar… esse sono profundo
Unir as mãos com resiliência em todo mundo
Conciliar, construir, acabar com a fome

Évora, 26-01-2021 – Maria Antonieta Matos
Pintura : Costa Araújo



26 janeiro 2021

PARÊNTESES DA VIDA

















Encandeio-me de tanto olhar a luz

Os olhos fecham-se empoeirados e secos

Mesmo assim teimo olhar o céu que me seduz 

E nascer de novo como num começo


Os ossos cansam meu sustento

Já não tenho a agilidade d’ outrora 

Mas a dormência num corpo sonolento

E os ouvidos assobiam a toda a hora


Perco-me a cada um segundo

Repito as palavras esquecidas

E os nomes já confundo 


Risco um presente da mente

Vivo num passado iludida, perdida

Caminhando mais oscilante


Évora, 22-01-2021 - Maria Antonieta Matos

Pintura Costa Araújo


OBSERVO INQUIETUDE DESMEDIDA











Observo inquietude desmedida, no meu olhar

Um mundo em euforia, que desconheço 

Retórica sombria, revoltas a aclamar  

Abrindo espaço a um despertar avesso 


Guerra súbita, que aos excessos dá valor

Que veda os olhos ao humanismo e à paz

Que engana sem respeito nem amor 

Que cinzenta a verdade no engodo assaz 


Vejo a lucidez transviada numa agonia 

A pobreza que há muito tempo não via

Uma doença que nos consome 


Vamos deixar… esse sono profundo

Unir as mãos com resiliência em todo mundo

Conciliar, construir, acabar com a fome 


Évora, 26-01-2021 – Maria Antonieta Matos

Pintura: Costa Araújo


30 outubro 2020

BINÓCULO DA VIDA - O António

 António guarda-fiscal, era um homem pujante e muito gracioso. 

Os filhos e sobrinhos ficavam fascinados com as histórias que lhes contava. Gostavam muito desses dias em que o sonho se misturava com a realidade e o encanto. Esta atenção e interacção eram muito importantes e levavam no pensamento a lembrança que não esqueciam. As relações interpessoais eram muito sólidas e respeitáveis! 

Um dia o António fez um desafio às crianças!

- Querem ir à pesca e divertirem-se um pouco perto da água? 

Ficaram muito entusiasmados que não paravam de falar.

 - Que bom! – Que bom! Eu quero!

Replicava cada um! 

Essa noite quase não dormiram com a emoção e o desejo de ver a noite passar! 

Levaram uma merenda que as mães lhes aviaram e lá foram ainda o sol não despontava. 

O percurso era longo, mas adivinhava-se que os momentos iriam ser muito agradáveis. No caminho paravam por aqui e por ali quando viam uma borboleta, uma flor ou outro bicharoco que lhe despertava atenção. Ora corriam quando viam um passarinho tentando apanhá-lo, ora ficavam para trás entusiasmados com o rebanho de ovelhas algumas com seus filhos acabados de nascer.  

 O verde dos olivais e o pequeno fruto cheios de cachos que despontavam entre as folhas fazia-lhe despertar a curiosidade fazendo perguntas!

 - Quando é que é a altura de colher a azeitona?

 - Só no inverno disse o tio.

 - Pois é, disse um dos sobrinhos, a tia Carolina costuma ir à azeitona. - Vão grandes ranchos de pessoas para os olivais e levam laraus, varas para bater nos ramos e sacas para ensacar a azeitona.

- Primeiro quando a azeitona está mais rija, uma é pisada outra retalhada põe-se em água e depois é temperada para comer logo, e ainda fazem a conserva para o ano inteiro para que não falte conduto e a outra vai para o lagar.

 A azeitona que sai fora dos laraus é aproveitada por isso há muita gente que vai ao rabisco e leva para o lagar para terem azeite durante um tempo. Nada se desperdiça. A conversa estava bem animada!

O tio deixava-os disfrutar a natureza e até lhe contava alguns episódios que teriam acontecido nos locais por onde passavam ou mitos que os mais velhos já lhe teriam transmitido.

Faziam imensas perguntas, algumas deixavam o António embaraçado, sorrindo discretamente entre dentes. Sempre tinha uma maneira interessante de dar a volta à questão. 

Ainda não tinham chegado e o início do dia já estava a ser muito divertido!

Ficaram encantados quando viram o Guadiana e correram para perto da água. Viam bem perto cardumes de peixes pequenos o que os fez meter os pés na água tentado apanhar um. Com o camaroeiro improvisado em casa lá apanhavam um ou outro que metiam num balde com água, pois queriam ter os peixinhos vivos. Mergulharam algumas vezes e salpicavam-se o que lhes dava liberdade e divertimento. Ao redor viam os juncos o buinho, atabuas, hortelã da ribeira, seixos, alabaças, cheiros que a natureza oferece com graciosidade.

- Sabem para que serve o buinho?

- Sei, dizia um! O ti Manel costuma ir ao buinho depois deixa-o secar e põe fundos nas cadeiras.

- Já vi! Tem muita habilidade e ficam muito bonitas e resistentes!

- Quem fez as nossas cadeiras da cozinha, pai?

- Foi o ti Joaquim, se tu quiseres um dia podes apreender!

O António disse-lhe que olhassem para o outro lado do rio. 

Sabem, além fica Espanha. As pessoas daqui para passar para lá, têm que se deslocar até à fronteira em Badajoz e além disso têm que ter uma autorização, o passaporte! É outro país!

Depois de muita brincadeira e já um pouco queimados do sol, comeram e dormiram um pouco. 

Quando acordavam estavam esfomeados, e o António com um sorriso disse-lhe: 

- Este ar fez-lhe apetite! Partiu um naco de pão e do que levava… chouriço, queijo, a córnea com azeitonas e perguntou a cada um o que queriam comer com o pão. Tinham também um barril de barro com água fresquinha.

- (O chouriço era o produto proveniente da matança do porco, dos migos da carne e do fumeiro para o conduto anual. Também havia a salgadeira para conservar o toucinho ou carne e alguma era frita em banha temperada com pimentão moído e guardada em potes de barro para comer em ocasiões especiais, a banha servia para barrar o pão ou cozinhados e o toucinho era o presunto do dia). – (O queijo era feito todos os dias do leite das vacas do tio Manel e da tia Maria Peças)

O Sol já ia alto e não podiam ficar mais tempo, tinham o caminho para fazer ainda e já iam chegar ao pôr-do-sol.

Apesar disso nenhum tinha vontade de sair dali. Porque não dormir também? Mas não era possível! Talvez para uma próxima vez. 

- Quando voltarmos novamente vamos trazer a família, pedimos ao tio “Manel” o carro e varais e a mula e podemos estar mais tempo, e depois cozinhamos aqui uma sopa de peixe do rio e vai ser um dia em cheio vão ver….

- Estou ansioso! Dizia um!

- Pode ser já no domingo? Dizia outro!

- Vamos ver…. Dizia o António! Temos que ter paciência!

Maria Antonieta Matos


Binóculo da vida - A CHEGADA DO CIRCO

Logo pela manhã havia grande chinfrim pela rua, a música entoava em toda a vila e apregoava-se a chegada do circo. As crianças saiam à rua e corriam atrás de palhaços em cima de andarilhos - grandes pernas de madeira - com um equilíbrio espantoso, informando as novidades que podiam ver. Saltimbancos, equilibristas, palhaços, magia e muitas surpresas. 

Assista ao maior espectáculo de circo com os maiores artistas que já viu. Diziam! Venham ao circo Mariano! Às 4 da tarde e às 10 horas da noite!

O José ficou rodeado dos netos para que os deixasse ir ao circo, falavam todos ao mesmo tempo que o avô já se estava a sentir sufocado. 

Acalmem-se…! Tirem-se de cima de mim, dizia o José!

Temos que pensar muito bem! 

Não era todos os dias que tinham esta oportunidade de poder ver um espectáculo daqueles! 

O avô viu o entusiasmo tão grande dos gaiatos e até ele sentia esse desejo e por isso resolveu com os pais irem ao circo. Os pais e os avós preparam a criançada e até eles com as roupas graves (roupas que só se vestiam na altura de acontecimentos importantes, festas etc.) Porque a outra roupa para alguns era muito pouca e a que vestiam o dia-a-dia muitas vezes era lavar e vestir. 

Iam eufóricos e ansiosos! Como seria?   

 No Largo do Arquiz havia uma grande movimentação. A passagem de cada pessoa levantava poeira deixando os sapados que tinham sido engraxados brancos do pó, barracas de algodão doce, carroceis de cavalinhos e carros, ninguém se fazia ouvir, mas a alegria essa, não escapava aos olhos dos mais atentos. Os sorrisos as gargalhadas tudo era muito saudável. O coração batia com mais força e a ânsia daquele dia diferente dava para nunca mais esquecer. 

Depois chegou a hora do espectáculo.

Dirigiram-se para a bilheteira ali pareciam estar quase todos os habitantes da vila. Uma grande fila! Os artistas esperavam à porta para lhes indicar o lugar.

Depois de sentados e, de uma pequena espera, fez-se grande silêncio. O apresentador começou a apresentar os artistas que, com o seu peculiar jeito, deixou todos suspensos. Depois cada número que se seguia e se via era como feitiço ou de grande admiração. Com os trapezistas, muitos tapavam os olhos com medo que caíssem. Veio depois o mágico com a sua partenaire fez desaparecer e aparecer flores, pombas, coelhos, lenços coloridos, moedas e olhou para um dos netos do José, aproximou e da orelha e tirou uma moeda, depois do nariz, o Luís parecia estar assustado. As pessoas abriam a boca toda soltando um grande Ah! De enorme espanto. 

Cá fora queriam andar nos carroceis, comer algodão doce, enfim foi o culminar de sensações que levaram na memória e não iam esquecer nunca.


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