29 junho 2022

Eu e tu

 Talvez no correr dos anos vás esquecer 

Os momentos felizes no verde campo, contigo 
Á sombra da oliveira, com o sol a derreter
Entre olhares comungava meus ensejos contigo 

Talvez os anos sejam o foco da lembrança
Que nós os dois temos sempre em mente
Por serem sorridentes num mar da esperança
Eternizamos nossos instantes para sempre

Talvez ainda velhinhos de mãos dadas
Com olhar provocador e matreiro, aconchegados
No nosso manto em fogo, até à alvorada 

Talvez a vida não se esqueça de nós dois
E os anos passem eternamente apaixonados
Sempre ardentes como amantes, mesmo depois

Talvez emaranhados como livros velhos
Abraçados em estantes cobiçadas
Escorregando nas casas como novelos 
Em castiçais sem luz, as suas laudas

Talvez o fogo que ateia de boca-em-boca 
No ermo verde, apinhado de flores enraizadas
Sopre aos berros como uma cabra louca
A fantasia, a explosão das cinzas, e já não resta nada!

Évora, 14-01-2022 - Maria Antonieta Matos
Pintura: Costa Araújo



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