07 maio 2020

TUDO ME CAUSA SAUDADE

Tudo me causa saudade
A cada instante que passa
As ruas cheias de graça
A vontade que m’ invade  

Tudo me causa lembrança
O cheiro a flores no jardim
O lago, os cisnes e afins 
A algazarra das crianças 

Tudo me causa desejo
Nestes dias silenciosos
As fotos a cada saída
À cidade com tanta vida
Esse fim que não prevejo

Tudo me causa anseio 
O beijo que faz tão bem
O abraço que me toca
O olhar terno, essa troca 
Esse sorriso que vai e vem  

Tudo me causa sonhar
Os brados nos rios a correr 
Como teclas musicais
O campo verde cheio de gado
Os pés descalços, 
O sol quente, os vendavais

De tudo, queria estar perto
Do amor dos meus filhos
Da emoção dos meus netos
Dos carinhosos afetos
Da casa cheia de brilho

Tudo me causa inquietude 
Num tempo longo vazio
Ir perdendo a liberdade
Ver passar a minha idade
Num curto espaço sombrio

Tudo me deixa ter esperança
Porque a vida não tem preço
E há sempre uma forma, um jeito
Um respirar de ar fresco
Como voos duma criança

Estou certa que esse dia vai acordar
Que a alegria torna a cada coração   
Que a vontade está na minha e tua mão
Que muitas luas e sois nos vão mirar

29-04-2020 - Maria Antonieta Matos

06 abril 2020

EU SONHAREI ESSE DIA…


































Eu sonharei esse dia… tão docemente
Aquele que regressa a liberdade merecida
Correndo o campo de flores sorridentes
Agradecidas por me ver enlouquecida

Eu cantarei ao mar imenso, iluminado
O amor que as ondas trazem deste mundo
Depois do longo período conturbado
A união de todos terá valores mais profundos

Eu sinto o peito repleto de esperança
Que o mundo será mais solidário, como irmão
Que acabará a guerra e encontra na paz, resiliência

Que reconstruir será o mais forte elo, de mudança
Com generosidade e humildade no coração
Ultrapassando adversidades com alegria e persistência

06-04-2020, Maria Antonieta Matos

pintura Costa Araújo

LONGE DE TODOS...

Longe de todos são trevas que percorro
Nesta prisão que augura segurança!

Sonho-me perdida no tempo
Em que escuto as flores a chegar,
 e meus olhos não podem venerar,

Minh’ alma não colhe esse alento
Meus ouvidos são gritos, silêncios
A cada passo lasso de momentos,

Contemplo o sol, a lua, os passarinhos
Que veem até mim, e não posso tocar,

Meus olhos descalços peregrinos
Caminham doces e errantes
Pelas ruas desertas, sozinhos,

A chuva canta-me baixinho
Saúda-me na minha janela
As árvores acenam-me sorrindo
E o vento abraça-me rugindo
Aquecendo a minha cela.

Os dias choram de ansiedade
No coração de cada habitante
Neste planeta de desigualdades.

O medo abrasa o pensamento
Hospitais saturam de doença
Mortes e tanto desalento
Alertando as consciências.

Falta-me o abraço… o beijo caloroso
O carinho, o toque de cada um que amo
Falta-me esse olhar tão gracioso
A reunião à mesa cheia de cor
Que neste tempo tanto clamo.

Maria Antonieta Matos 02-04-2020

A PANDEMIA - COVID19

Ai …! O mundo no mesmo barco
Num balançar que dá medo
Sozinhos sem um abraço
Que nos conforte tão cedo
Um pavor do invisível
Um confronto sem igual
A um vírus destemido
Tão diferente do habitual
Não escolhe pobres, nem ricos
Nem local, nem País
Na terra, ar ou mar
Não escapa gente por aí …
Há uma união mundial
Com esporádica resistência
Que aos poucos tomam consciência
Do risco fenomenal

Todos se unem pr’ o combate
Ao surto que nos invadiu
Que dispara a cada instante
Com esforços como ninguém viu

Todo o mundo se debate
Para evitar a pandemia
Onde o sobre-humano é real
No universo de assimetrias

Sem carinho sem piedade
Sem dignidade gente pr’a cova
Sem um ai que nos comova
Sem a despedida que resolva
Num tempo de ambiguidade

Com receio uns dos outros
A distância é obrigatória
Para que o vírus não se pegue
E se propague sem demora

Calem-se as armas de guerra
Centrem-se em exterminar o monstro
Que cego em qualquer caminho
A qualquer vai ao encontro

A sanidade e a economia
Estão a par nesta desgraça
Que a humanidade não previa
E que a todos ultrapassa.

Na esperança que tudo passe
Outra alma se levanta
Atentos, mas confiantes
Que outro mundo vai renascer
Mais humano, mais solidário
Todos livres para crescer

Entretanto fique em casa
Não ponha em risco ninguém
Para o bem dos nossos guerreiros
Que nos protegem tão bem

24-03-2020 Maria Antonieta Matos
Imagem da net

01 maio 2019

SE EU NÃO FOSSE A TUA SOMBRA

Se eu não fosse a tua sombra, meu amor
Seríamos dois corpos ardentes
Estonteados loucos d’ esplendor
E não sentiria o teu vazio, dormente
Mesmo assim:
Corro a procurar-te no meu espaço
E vejo-te ao encontro d’outro caminho
E sonho-te no meu peito a um compasso
Num estreito laço de carinho

Respiro o ar, a claridade desse momento,
O prazer ao rubro, o doce mel
Dos beijos compartilhados, a passo lento.

Mas tens um amor e tanto, e tão fiel,
Anseias um futuro jubiloso,
Buscas e projetas cada um dia… às vezes tão cruel!
E o teu vigor nunca desata por ser teimoso!

14-02-2019 Maria Antonieta Matos
Pintura: Costa Araújo


AMIGO

AMIGO

Ao olhar o azul do céu iluminado
Onde repousas de riso aberto a fantasiar
Coras a tela no universo… sempre apaixonado
Das mais lindas cores de pintar

De asas ao sol e ao vento a estremar
Na mais pura inspiração… que arrebata
O sonho eterno brinca sempre aprofundar
As cores dançam ao som da mais bela serenata

E nessa enormidade a tua alma pura
Abrilhanta a terra de formosura
Que grita de saudades de ti

Coloquei uma escada até ao céu, aqui do adro
Onde expões agora os teus quadros
Para declamar meus versos também aí

Maria Antonieta Matos 23/04/2019

17 março 2019

O INVERNO


Ó inverno pareces doente
Já não choras como outrora
Nem o frio é persistente
Tudo é diferente agora

Não digo que não goste disso
Mas inquieta o ambiente
A cultura muito sente
E todos pagamos com isso.

Maria Antonieta Matos 05-02-2019

Pintura de Costa Araújo

Ó NOITE...

Ó noite… tão longínqua me pareces
Quando o pensamento se recusa a dormir
Tudo vem à memória… que nada esquece
E ainda acrescenta tudo aquilo que pensa vir

Ó noite acordada que sempre trazes reboliço
Na alma, no coração, no cansaço dos meus ais
No corpo dorido, revoltado, quebradiço,
E aos olhos aflitos que não se querem fechar mais

Ó amanhecer que já não te ouço, nem te vejo
Tinha planeado o meu dia de esplendor
Mas apaguei os sentidos e nada mais almejo

A sombra ficou em mim suspensa, sem nenhuma cor
Esqueci o sorriso, o nome e o desejo
Sucumbi no sono e fui à busca do sonho de amor.

15-03-2019 Maria Antonieta Matos

AO AMIGO

Há muito que não renovas as tuas telas,
Como fazias em cada um amanhecer,
A ouvir as vozes do Alentejo e a canta-las, 
Empolgado, sorridente na pintura a renascer.

Há muito que o vazio silencia o espaço,
Que a saudade vive em cada teu lugar
Ávida de claridade, de alegria, de um abraço,
Do espelho que projetas no teu olhar.

Há muito que tuas mãos estão quietas,
Que os pincéis estão cansados de te esperar,
Nutre-se a falta do teu astro colorido de poeta.

Embora acredite que continuas a sonhar,
Que abispas o pormenor nessa janela aberta,
E eternizas esse amor numa noite de luar.


13-03-2019 Maria Antonieta Matos
Pintura de Costa Araújo

O INVERNO

Ó inverno pareces doente
Já não choras como outrora
Nem o frio é persistente
Tudo é diferente agora

Não digo que não goste disso 
Mas inquieta o ambiente
A cultura muito sente
E todos pagamos com isso.

Maria Antonieta Matos 05-02-2019

Pintura de Costa Araújo

18 fevereiro 2019

SE EU NÃO FOSSE A TUA SOMBRA

Se eu não fosse a tua sombra, meu amor
Seríamos dois corpos ardentes
Estonteados loucos d’ esplendor
E não sentiria o teu vazio, dormente
Mesmo assim:
Corro a procurar-te no meu espaço
E vejo-te ao encontro d’outro caminho
E sonho-te no meu peito a um compasso
Num estreito laço de carinho

Respiro o ar, a claridade desse momento,
O prazer ao rubro, o doce mel
Dos beijos compartilhados, a passo lento.

Mas tens um amor e tanto, e tão fiel,
Sonhas por um futuro jubiloso,
Buscas e projetas cada um dia… às vezes tão cruel!
E o teu vigor nunca desata por ser teimoso!

                       
                                                                14-02-2019 Maria Antonieta Matos
Pintura de Costa Araújo 

MALDITA GUERRA
























Estilhaços explodem no ar,
Um espetáculo aterrador!
Gritos…
Choro…
Separação… tanto medo
A qualquer hora, tarde ou cedo
Sem refúgio acolhedor.
Olhos de espanto… inocentes,
Desorientação que dá dó,
Crianças que ficam só,
Entregues à própria sorte.
Improvisam-se hospitais,
Sem recursos, tudo aos ais,
Impotência…
Indiferença…
Desprezo empacotado,
A estranheza passa ao lado,
Por interesses tão banais.

Tão simples seria a vida,
Se houvesse compreensão,
Humanidade muito amor,
E o sentir do coração.

14-12-2018 Maria Antonieta Matos

NA SOMBRA




















Pintura de Costa Araújo

















Numa nuvem encobertos,
Andam no ar grandes vultos,
Citados pelos incultos,
Navegando no deserto.

Não têm grandes ideias,
Encostam-se a almas marcantes,
Por se acharem importantes,
No paleio ignóbil que os rodeia.

Têm um semblante empinado,
Presunçosos de boa fala,
Com seu ego maravilhado,

Tanto enganam ninguém os cala,
São convencidos, descarados,
Gabarolas fazem gala.


17-05-2018 Maria Antonieta Matos

PAREM LOUCOS…










Pintura de Costa Araújo














Parem loucos… desvairados,
Sem nenhuma complacência,
A jogar sempre inflamados,
Sem pensar nas consequências.

Parem… para pensar um pouco,
Dominem os maus pensamentos,
Não façam o mundo mais louco,
Só feito de horríveis momentos.

Parem… supliquem ajuda,
Não entranhem essa loucura,
Num instante de crise aguda.

Parem… com tanta tortura,
Que ninguém têm culpa de nada,
Não façam a vida dura.

Parem… Que mundo é tão belo,
Sonhem façam castelos,
Amem…! Que o amor tudo cura.

Parem… busquem a luz que mais brilha,
Concebam dias de partilha,
Tenham momentos de aventura.

Não entrem em desespero,
Deem à vida doce tempero,
Caminhem na boa ventura.

06-02-2019 Maria Antonieta Matos

01 fevereiro 2019

INSÓNIA

A mente cansada já tem horas…
Contudo a insónia não se dá por vencida,
Espreito a janela e o vazio afora,
E nem uma estrela me fala atrevida.

Entranha-se o frio no corpo despido,
Embora os olhos persistam abertos,
Erram na noite num ver sem sentido,
Embalando o tempo tão pouco dormido.

As pálpebras pesam… o dia amanhece,
O pensamento desfeito já não tem alento,
O som dos passarinhos do nada desvanece,

A insónia teimosa chocalha meus olhos,
Que se prendem ao sono sem nenhum encanto,
Por momentos, vem sonho infernizando o sobrolho.

Maria Antonieta Matos 29-01-2019
Pintura de Costa Araújo

29 janeiro 2019

AS EMOÇÕES DO TEMPO

Ó tempo, que trocaste teus hábitos,
Que me enganas em cada estação,
Que atormentas os povos com errada decisão,
Mas que nos trazes às vezes a luz da razão.

Eram quatro as estações do ano,
Que aprendi desde muito cedo,
Cada uma ostentava emoção,
De alegria, tormenta e medo.

No inverno intensa chuva,
Dia e noite lavravam ribeiros,
Choravam os beirais no chão,
Acenando o arvoredo.

Trovejava… gritavam luzes no céu,
Rugia o vento altivo,
Pintava-se o dia de breu,
Encharcado ficava o corpo,
Resfriado até ao osso,
Rodopiava o chapéu.

Alagada a terra frutífera,
Geminava a semente,
Lançada com mãos de “guerra”,
Um corrupio permanente.

Na chaminé estalava a chama,
O café perfumava a casa,
Os mais velhos contavam “estórias”,
Ia-se cedo para cama.

E lá vinha a primavera,
Colorida e luminosa,
Tudo era verde e florido,
A cada canto uma rosa.

Seduziam as andorinhas no céu,
Chilreando de contentes,
Olhares concebiam véus,
Traçando linhas cadentes.

Às vezes tinha chuva, tinha vento,
Tempo ameno, trovoada,
A cultura agradecia,
Nos regos, a vida surgia,
P’ la terra tão bem estrumada.

Espreitava o verão trazia chama,
O corpo exausto transpirava,
A hora da sesta só a cama,
Acalma a sonolência obstinada.

No campo o chapéu e o lenço,
Ensopavam o suor a dilacerar,
E aliviavam o sol ardente,
Tão baixo, tão eminente,
Difícil de suportar.

O outono vinha cansado,
Da secura do calor,
As árvores despiam a ramagem,
Punham o chão multicolor.

Ficava triste o outono,
De frio e nuvens cinzentas,
As noites longas de sono,
Tinham manhãs rabugentas.

Aclamava o vento e a chuva,
Com vontade de sorrir,
De mudar o seu vestido,
Num tom verde divertido,
Das suas árvores vestir.

Maria Antonieta Matos 26-01-2019

25 janeiro 2019

PORQUE ME OLHAS ASSIM

Porque me olhas assim, 
A espreitar p’la fechadura,
Parece não confiares em mim,
Com esse ciúme sem fim,
Doentio cheio d’ amargura.

Querias ver-me a escorregar,
Isso vive em teu pensamento,
Na tristeza desse olhar,
Que turva a cada momento.

Não digas que não sei amar,
Que me dou levianamente,
Porque há jeitos de gostar,
E meu peito por todos sente.

24-01-2018 Maria Antonieta Matos
Pintura de Costa Araújo


24 janeiro 2019

APROXIMA-SE A NOITE


Aproxima-se a noite no dia tão negro,
Navego nas águas tão escuras de medo,
Ao longe um farol ilumina o rochedo, 
E sinto arrepios na noite que é dia, 
Tão gelada, tão fria,
As horas, tão cedo.

As ondas s’ enfurecem na areia,
Tapam e destapam o meu leito,
Oiço o choro da Sereia,
Querendo namorar o meu amor-perfeito. 

O Sol escapa-se envergonhado,
Beijando a lua à socapa, 
Num momento coroado,
Que a nuvem cúmplice faz de graça.

Aconchego-me a ti, meu amor,
Pulsando meu peito que sentes bater,
Abraças-me com jeito no manto sedutor,
Que atenua o pranto no fundo do SER,
Que aquece a alma, 
Tão frágil mais calma
Sempre a renascer.

Depois descobre o dia numa luz clara,
E livres ao vento voando no céu,
Trocamos olhares, sentimos desejos, 
No sonho de amor vamos tu e eu. 

14-01-2018 Maria Antonieta Matos

A LUZ DO PENSAMENTO

Oiço eterna luz do pensamento,
Que me envolve subitamente neste anseio, 
Que desdobra em emoções e enleios, 
Minhas mãos que pintam agraciado momento.

Surpreende-me e leva-me longe, tão perto,
Renasce como a fonte inesgotável,
Como ter dentro a criança inseparável,
Que emerge e se deslumbra no deserto.

Canto o amor que na tela deito,
Abro a chama que os meus olhos veem, 
E encadeio os teus sem preconceito.

Toco vivamente o sentir do meu pensar,
Acordo a leveza e o rasgar das cores,
E espero de ti a loucura de gostar.

23-03 2018 Maria Antonieta Matos

ONTEM A CHUVA

Ontem sentia-te disparada,
Teclando as pedras no chão,
E apurei o meu ouvido,
Só pr’a ouvir tua canção.

Espreitei-te p’la janela, fria,
O meu sentir te avistou,
Há muito que não dormia, 
Tanta falta que fazias, 
Que meu coração t’ aclamou.

Estava escuro e o chão brilhava,
Abracei-te para agradecer,
Aos beijos tu me molhavas,
E eu contente ali ficava,
Com saudade de tanto querer.

Havia tanta energia,
Namoramos p’la noite fora,
O instante apetecia,
O vento doido corria,
Pareciam as noites d’ outrora.

Chorava o beiral de contente,
Lençóis de água a rebolar,
Sintonia comovente,
Numa noite bem diferente,
Musicalidade a pairar.


02-03-2018 Maria Antonieta Matos