Minhas estirpes me sustentam
São os dentes e a minha boca
Que fazem crescer meus braços
Frondosos que tudo aguentam
Com amor dou flores e frutos
O sol me aquece e roça
A chuva me acaricia e escuto
O sopro da ventania
Que às vezes me arrepia
E ao toque, meu corpo dança
Sou pranto de mágoa intensa
Sou aconchego no ninho
Sou sorriso rasgado, vida
cama e mesa, alma perdida
Solidão, silêncio e espinho
Sou fogo, tristeza, dor
Sou esqueleto ignorado
Sou joguete que muda a cor
Sou um susto, o adamastor
Sou refúgio no triste fado
Sou lenda decorativa
Em palavras de saudade
Sou o rosto embasbacado
Nesse tecer emaranhado
Que desperta ansiedade
Sou a grade do cativeiro
Que não deixa nada passar
Preso sem boca, nem dinheiro
Para um qualquer usar
Sou folha caindo aos poucos
Da árvore que sustenta a vida
Sou baile, euforia de loucos
Para a etérea partida
Sou tudo, e não sou nada
Quando sou luz ou me desligo
Que mereça quando há falha
Que precise e nada valha
Que prevaleça o castigo
21-04-2018 Maria Antonieta Matos
Sem comentários:
Enviar um comentário