06 dezembro 2024

QUE O AMOR SEJA CURA

Que na tua dor, que é abismo e eco,
O amor te alcance no gesto mais seco,
No olhar silente, na mão estendida,
E na sombra mais fria, te sopre mais vida.

Que o amor, em seu manto de luz tão fugaz,
Abrace a ferida, te traga paz,
Que ele seja o barco, o vento, o cais,
Quando o mar bravo, em ti for demais.

Que na tua dor, que queima e consome,
O amor te chame, segrede teu nome,
E que tua alma, tão frágil, escute,

A melodia que só o amor impute.

Que a ternura, com sopro de eternidade,
Renasça no peito apague a saudade
E em cada lágrima que no chão fecunda,
Faça brotar a flor que tempo junta.

Que na tua dor profunda e aflita,
O amor seja chama, abrigo, guarida,
E mesmo na escuridão que em ti invade,
Te lembres: o amor é tua verdade.

Évora,  2024 - Maria Antonieta Matos 



GRATIDÃO

Ah! Se cada dia, fosse o dia de agradecer?
De sorrir olhos nos olhos de cada ser,
Com amor no coração sempre a arder
No sentimento de alegria e de prazer.

Se o sol, ao nascer, trouxesse a canção
Da suave brisa, de paz e mansidão,
E os nossos passos fossem a oração,
Que brota simples, livre do perdão.

Gratidão é luz que nunca se apaga,
Chama viva que o tempo não leva,
É rastro eterno que a alma embriaga.

E ao fim da vida, quando a noite enleva,
Será no peito uma força que afaga:
O amor que demos — este sim, nos eleva.

Évora, 2024 – Maria Antonieta Matos



A VIDA FRÁGIL FLOR

 

A vida, frágil flor, desfaz-se ao vento,
Quebrando as linhas ténues do existir,
O tempo, cruel, tece o esquecimento,
Enquanto o chão cede ao lento ruir.

O céu, que outrora azul, já desabona,
E cinza cobre o dia em vil cenário,
A mão que ergue, a prece abandona,
No frio vazio, ecoa o eterno calvário.

Porém, na dor, há lume que persiste,
Do pó renasce a força de crescer,
Que ergue o peito onde o vazio insiste.

Desmoronar não é só padecer,
É ver um rosto novo, ainda que triste,
E dele se ergue, enfim, para viver.

Maria Antonieta Matos



QUANDO FORES ALENTEJO, VAI DEVAGAR

Quando fores ao Alentejo, vai devagar,
Deixa o tempo escorrer como mel da colmeia,
Sente o bulício do vento a segredar,
E o sol a beijar a terra que anseia.

Vê as barreiras, onde o céu se deita,
Um manto azul que abraça o chão dourado,
Ouves o som? É a calma perfeita,
É o canto da vida no silêncio arrecadado.

Cheira o aroma do pão que se amassa,
Da esteva e do rosmaninho a brotar,
E prova o vinho que a alma abraça,

Enquanto a lua começa a sonhar.

Escuta as vozes da gente que vive,
De olhar profundo, de mãos calejadas,
Guardam histórias que o tempo propaga,
São raízes firmes, memórias sagradas.

Quando fores ao Alentejo, lembra-te então,
De levar o coração leve e aberto,
Pois ali a simplicidade é canção,
E o infinito está sempre por perto.

Maria Antonieta Matos

Não Quero Saber das Rugas


Não quero saber das rugas, ignora,
Foram inventadas no meu rosto,
São mapas de um tempo que chora,
Como as sombras tristes ao sol-posto.

Não me falem de traços, escurecidos
Nem dos sulcos que o riso deixou;
Eles são memórias de sonhos perdidos,
Não as marcas da dor que sobrou.

Prefiro lembrar das horas inteiras,
Dos dias sem peso, sem fim.
As rugas são ondas no rosto,
Mas meu mar tem vida em mim.

Não quero saber das rugas,
São marcas de alma, nada mais,

Deixo-as quietas, esquecidas,

Nas memórias ancestrais.


2024 Maria Antonieta Matos