28 outubro 2020

BINÓCULO DA VIDA

Num ambiente entre o deitar cedo e cedo erguer, a lavoura assentada no rasgar da terra, abrir regos paralelos em toda a extensão do terreno, que as mulas arrancam presas à pá da charrua, ligeiramente inclinadas à terra com a ajuda do homem que delineava a profundidade do rego, conforme a rijeza da crosta, existem muitas profissões que ladeiam o espaço rural e arquitetónico 

O Presidente do Município, a professora, o pároco e o médico são pessoas de grande prestígio, respeitabilidade e poder. Seguem-se os donos de terras, lavradores, proprietários, seareiros, negociantes e para os servirem governantas, criados, ganhões, moirais, carreiros, pastores.

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Formigam aqui e ali ferreiros, latoeiros, sapateiros, costureiras, alfaiates, barbeiros, bordadeiras e lavadeiras povoando as margens dos rios e enchendo os arbustos de roupa a corar ao sol, aguadeiros que vendem água ao copo ou ao cântaro pelas ruas ou festas, porqueiros colorindo o campo e vendendo sonhos no silêncio ímpar de emoções, que da natureza descobre e o carrega de saber, amola-tesoura, engraxador, carvoeiro, tabernas, boticário, carteiro, telefonistas, cesteiro, cadeireiros, limpa-chaminés, vendedores ambulantes.



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Malteses, pés descalços, analfabetos, crianças e mulheres tímidas, enfiadas no segredo dos seus pensamentos. Viúvas que se escondem por entre xailes e lenços negros e vivem rodeadas de preconceitos, de medos e crendices. A guerra, as epidemias, que tornam a humanidade frágil e resiliente, onde quase tudo precisa renascer. 

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A enxada, as grades, as sementeiras, a espiga doirada, a ceifa, as eiras, almiaras, os palheiros, os trilhos, os carros de mão, a forquilha, a monda, a debulha, as choças, os ranchos de homens e mulheres, o grão o feijão a batata, a hortaliça, o calor tórrido, os fogos, o gado, árvores de fruto predominando os pomares, olivais;
os lagares; azeite, azeitona, a farinha, o pão caseiro, …Moinhos de água, azenhas. Moleiros. Picotas, noras. Sobreiros, a cortiça, a lande, os porcos, ou os temporais, as fontes, os desastres, as cheias, os ribeiros que transbordam as margens num murmúrio suave e certo, o peixe do rio, o coxear das rãs, o assobio das cobras, o chilrear dos pássaros, o matraquear das cegonhas, os carros de burros com os taipais, os carros de varais, os churriões puxados por mulas ou cavalos com estampidos que interrompem o silêncio dos Deuses; as veredas, as estradas de terra batida, as fontes rodeadas de mulheres enchendo os cântaros, jogar ao eixo, à semana, o jogo da china, os contos, a poesia, o cante, os bailes, os arraiais, o sentar à porta, o alicate, o canudo, as panelas de barro ou de ferro, o lume de chão, o fogão a petróleo e a lenha, a almotolia, o espevitador para desentupir o bico do fogão a petróleo, os coxos em cortiça para beber água, os moxos feitos dos troncos das árvores servindo de assento, o gado e a lembrança dum passado longínquo, vincado pelas muralhas do castelo medieval. 

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