28 outubro 2020

CONTO Antigamente na taberna



Foto da Internet.

Na taberna sombria, forrada de pipas, o cheiro de vinho e aguardente, e o estalido dos berlindes nas garrafas dos pirolitos, estava sempre cheia de fregueses assíduos. 

  Homens que passavam horas de pé ou sentados à mesa, em bancos de madeira, depois do trabalho ou em dias de descanso, com o copo do vinho em punho, os beiços e as mãos engorduradas do pão com toucinho, linguiça, dos torremos e das azeitonas, petiscos comuns, neste ambiente. 

 Na mão direita a navalha que cortava cada naco de pão condutando o petisco, que pegava na mão esquerda. 

O taberneiro era apelidado de “Lica” o seu nome poucos sabiam. Muitos indivíduos nasciam e morriam apenas conhecidos pelas alcunhas que muitas vezes continuavam por gerações.

- Ó Lica enche aí mais um copo, dizia um!

- Mais uma rodada - dizia outro!

 O Joaquim entrava naquele momento e pedia-lhe que enchesse o garrafão de vinho, que trazia na mão. Um garrafão de vidro muito bem encanastrado, que depois enrolhou com grande pressão com a rolha de cortiça.

  O ti Zé pedia a garrafa da água-ardente para matar o bicho logo pela manhã e que para a noite servia de um bom comprimido. 

- É remédio santo dizia -facilita a digestão e aquece a alma.

O Lica não tinha mãos a medir.

 Num alguidar com água que dava para quase todo o dia, mal enxaguava os copos que muitas vezes ainda mostravam o assento no fundo ou o desenho da boca do vinho tinto.

 Aqui afogavam as mágoas, jogavam às cartas, brigavam, contavam histórias, criticavam as vidas, cantavam e versavam muitas vezes trocando a perna e cambaleando de bêbados.

 Havia homens que ficavam colados ao balcão o dia todo. Desleixavam-se e desinteressavam-se pelo trabalho e pela vida! Abandonavam os sonhos por falta de coragem para desistir do vício.

Para casa uns levavam a boa disposição exagerada, outros, era o remédio para dormir e ainda a maneira bruta de dizer ou poder espancar as mulheres, amigos ou familiares o que não tinham coragem de dizer sóbrios. A forma que encontravam para os maltratar.

Havia ocasiões que as mulheres iam buscar os maridos à taberna, para os ajudar a chegar a casa pois a bebedeira era tanta, que não tinham força para andar.

 A mulher tinha as vizinhas e familiares mas muitas vezes com medo da vergonha não desabafava, sofria sozinha. 

Maria Antonieta Matos

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